domingo, 13 de julho de 2014

Máscara Caída

Um lado escuro nunca abandonado. Não se pode sair da depressão. Ao seguir nesse caminho está convidado a entrar em seu próprio definhamento. Controlada, tomada e até domesticada, porém sempre presente. Conviverá com ela na mais bela harmonia, será sua confidente nos momentos pesarosos. Não se volta a ser o mesmo depois de conhece-la, depois de conhecer a si mesmo. Quando se vê a mais transparente face da verdade é um árduo trabalho para exonera-lá. Quando se conhece seu inferno pessoal, é impossível esquece-lo.

Não é tão penoso quanto parece. Agora você apenas sabe a verdade. Qual o problema disso? Ignore-a, mas não se esqueça de sua existência, você sabe como ela é. Tens um privilégio até sua efetiva sentença de morte. Quando necessitar confronta-la novamente (o que provavelmente não tardará a acontecer), já estará apto para tratar a veracidade dos fatos com maturidade. Uma batalha só talvez encerrada em seu túmulo.

domingo, 18 de maio de 2014

Noite de Insônia

A noite estava entrando pela janela, e aos poucos percebi que entrava em mim. Me invadiu por completo. Meus órgãos já não funcionavam, meus ossos se deterioravam e tudo o que eu fiz foi assentir. A escuridão tomava-me por completo. A lua se escondia, nenhum feixe de luz. Em estado inábil, meus olhos não se fechavam. Estava em um sério debate com o teto de meu quarto. E isso só está começando.

A angústia queimava em meu peito, a ansiedade arranhava minhas costas, o desejo não cessava: amanheça, amanheça! Minha cabeça latejava de dor. Pensamentos inquietantes eram como agulhas furando de dentro para fora. Visão deturpada... O que está acontecendo bem na minha frente?  Eu ouvia vozes, agudos gritos em meus ouvidos e sussurros nos momentos de maior solidão. Socos e pontapés atingiam meu corpo moído.

Algo quer sair de mim, algo vai explodir. Mas eu implodo. Que anomalia eu sou? Algum tipo de monstro? Um monstro que devora a si mesmo? Maior e mais forte que eu, sou eu mesma. Agora já estou menor, um ser desprezível. Eu quero ser diferente, eu quero ter uma alma novamente. 

Finalmente a luz aparece, o dia começa. Tudo volta para mim. No momento sou apenas eu. Bem, bela e normal eu. A noite foi embora, mas continua dentro de mim.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Fim.

E é hora de ir embora. De deixar o tempo levar algo que vai ficar. Porque é melhor assim. Já está tarde, vamos nos atrasar para o nosso desencontro. Tudo dura até acabar. E remoer nada vai adiantar. O sentimento do “e se?” tortura, mas não há nada que se possa fazer. Isso não é um livro com final feliz e nem uma conta com seu resultado exato. Isso era nós. Agora é tu e eu. Agora são lembranças em comum. São vontades e desejos que não vão acontecer, sabe-se lá o porquê. São brincadeiras, intimidades, frustrações. É tudo aquilo que um dia já foi ou iria ser e agora não é mais. É o passado enterrado, futuro pensado e o presente estragado. Sou eu indo viver. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ar.

Estou afogada na nostalgia, meus pulmões se enchem de nada. Tudo me rodeando, os pensamentos inflam em minha cabeça e sinto que em breve irei desmaiar. É absurdo como isso foi acontecer, ou melhor, como isso foi deixar de acontecer. Nada satisfaz, nada acalma, nada é o suficiente. Pura e simples ausência. Vazio. Minha pele sendo esfolada e o sangue escorrendo pelo resto de corpo que tenho. Assassinato ou suicídio? Seja o que for, friamente calculado com todos os sentimentos possíveis. Tortura. Uma doce e cruel tortura. O fim do mundo dentro de si.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Monotonia.

Viver é esvaecer. É o grito desesperado, é a ânsia de ser. E toda a felicidade rotineira é lançada ao mar quando o novo chega até ti. E então tentar ser os outros, que tentam ser os outros para achar seu lugar, é em vão. Nada enche, nada satisfaz. É assim que deve ser. Todas as forças são ignoradas, toda luta é perdida e toda energia é concentrada em algo ainda não encontrado.

Isso não faz mais sentido. Nada faz. Aquela falsa alegria diária não importa. Os sorrisos e gargalhadas na boca daqueles que unem-se todas as noites parar rir já não é suficiente. Nada disso é real. Aqueles beijos de "amor" falsamente apaixonados me dão náuseas. Aquelas conversas superficiais, aquelas pessoas vazias, me dão enjoo. Por favor, alguém me livre dessa tortura.

Saem em grupo e parecem manadas de animais. Todos da mesma espécie, com seus coletivos iguais. São apenas restos e é incrivelmente aterrorizante como esses têm em maior quantidade que os resultados. Sem lógica, apenas. São só restos que ficarão para os ratos. Não é possível que eu seja a alma doente enquanto eles que escolheram isso para si mesmos. Cegos. Não se pode entender, não se pode ver, só se pode sentir: há algo errado por aqui. É tão difícil de compreender?

A realidade está em falta. "Uma dose de fantasia", é menos doloroso. Falta sentimento, falta conteúdo, falta essência. A fantasia é tão real e tão palpável que a verdade passa a ser loucura, está tão escondida a ponto de raramente ser sentida. Incrível a falta de valor que isso tem, o pouco impacto que isso causa. Não adianta cobrir os danos com um tapete, um dia ele rasga. Você não entende? Não consegue enxergar. Deixe de ignorância, é só você olhar. Está na cara... Apenas não faz sentido se você tiver noção. 


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um Texto Sobre Trens.

Andando nas ruas vejo a velha ferrovia quase abandonada que divide essa pequena cidade. Vez ou outra passa algum trem. Milagrosamente, ouço ao fundo o apito de um. É como se ele dissesse "saia da frente, não quero te atropelar", pelo menos ele avisa. Acho que gosto de trens. Tão grandes, podem transportar tanta coisa: cansaço, saudade, cheiro de suor, luta... Histórias. Nunca parei para pensar para onde vão, mas será que chegam a algum lugar? Talvez um dia procure a estação mais próxima, suba em um e descubra. "Bem que podia estar indo para Hogwarts" tenho esse pequeno devaneio e dou um leve sorriso.
   
Por mais que eu goste, tenho um pouco de receio de fazer uma viajem de trem. Geralmente, nos livros, eles são coisas tristes. Um sinônimo de despedidas, saudades, lembranças, uma passagem só de ida para guerras, uma criança chorando com uma boneca de pano na mão chorando pela perda de alguém, aquele que separa dois corações que deveriam permanecer juntos, destinos corrompidos. Ok, agora já não sei se gosto deles. Só experimentando para ter certeza. Ainda bem que existem exceções nos livros.

Ouço novamente seu apito, agora bem mais forte. Já deve estar para passar em uma altura possa vê-lo. Quero saber como ele é. Só mais alguns segundos...Droga, é apenas um trem cargueiro.